29 de out. de 2009

Mata adentro! – O desafio do discipulado


Um filme que me impressionou bastante foi o filme “Instinto”, em que o ator Anthony Hopkins vive o papel de um antropólogo preso em um manicômio, pois foi capturado no meio da selva, vivendo como um selvagem entre os gorilas. Este professor havia decidido estudar o comportamento desses animais de uma forma jamais realizada antes, se embrenhando na mata e observando-os de perto. O filme descreve de maneira empolgante o processo de aproximação entre o professor e o grupo de gorilas. Inicialmente, vence o medo de criaturas tão diferentes e imprevisíveis, e passa a enxergá-las e admira-las na sua espantosa singularidade. Aos poucos, se sente mais a vontade, abrindo mão de seus equipamentos e acessórios da civilização que não o ajudavam a se aproximar de seus novos amigos, mas que somente serviam para intimida-los.

O antropólogo aprendeu que para conhecê-los com profundidade deveria esvaziar-se de sua postura de dominador. Ele teve que deixar o acampamento, seu lugar de segurança e mudar-se para seu novo habitat, a selva. E quando conseguiu entender essa necessidade de desprendimento e de entrega, ele foi aceito pelo grupo de gorilas e passou a fazer parte do bando.

Esta história nos lembra a de um outro professor a quem devemos imitar: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens.” Este processo pelo qual Jesus passou movido pela sua compaixão por nós, chama-se “encarnação” : “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós”.

Para nos alcançar num extraordinário ato de amor, Jesus desceu de seu trono, despiu-se de seu manto real, pôs de lado sua coroa e veio habitar em nosso selva, tornando-se um de nós. Foi assim que passamos a ouvir a Deus em nossa língua, vimos o seu rosto com a nossa cara, tocamos sua majestade em nossa pele, sentimos o aroma da vida em seu cheiro de gente. E então, pudemos finalmente entender as boas notícias do evangelho: Deus está entre nós, e “Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.”

Quando Jesus nos desafia como seus discípulos a pregar o evangelho ao mundo, Ele o faz como o modelo a ser seguido: “Assim como tu me enviaste ao mundo, ó Pai, também eu envio meus discípulos ao mundo.” Nosso modelo de missão será sempre o Senhor Jesus encarnado.

A encarnação é o modelo para o discipulado cristão. Um discipulado que antes de ensinar , exortar, guiar; é um discipulado que se identifica, se solidariza e dignifica aquele a quem se ama e a quem se deseja resgatar.

Nossa missão, como a de Jesus, começa pela compaixão e nos impele a uma viagem. Esta é uma expedição em direção ao distante, ao perdido e ao “selvagem”. É ir em direção àqueles chamados de “estranhos as alianças e sem Deus no mundo ” .

Será que como Igreja, estamos dispostos a cruzar fronteiras em nome do evangelho? Estamos dispostos a deixar nossa zona de conforto e sair em busca da “ovelha perdida”? Abriremos mão de estar perto de nossos iguais para encarnar nossa missão junto aos distantes?

Que possamos ouvir do Senhor o que Paulo também ouviu: “Coragem! Assim como você testemunhou a meu respeito em Jerusalém, deverá testemunhar também em Roma”.

Vamos em frente, Igreja de Cristo! Mata adentro! Esta é a nossa missão!


Texto de André Botelho publicado pela Revista Eclésia.

4 comentários:

Pr. Cris disse...

Parabéns pelo post, André! Muito abençoador e esclarecedor! Nunca deixe de postar, irmão!

Anônimo disse...

ola andré!
nao t conheco, mas conheco o marcos!
legal seu blog, gostei do texto.. a primeira coisa q me fez lembrar eh de foucault q diz q nosso comportamento muda quando somos observados... mas gostei bastante da comparação com o filme, nunca pensei nesse filme por essa ótica
Deus te abençoe com o blog novo!
abrss

Alexandre A Anjos disse...

Obrigado pelo comentário no meu Blog, palavras incentivadoras.

Sobre o seu Blog, a tempos comento com a Flávia que o Pr deveria publicar algo em seu nome, entrar 'mata adentro' nesse universo livre que é a internet cheio de “ovelhas perdidas”.
Já estudo uma maneira de incluir esses post no boletim dominical.

Abraço

Daniel disse...

Parabens pelo blog Andre.

Depois visita o meu...

abraço

http://danielcalves.blogspot.com/