5 de fev. de 2010

Quem são os nossos heróis ?




”Ele tinha a natureza de Deus,
mas não tentou ficar igual a Deus.
Pelo contrário, ele abriu mão de tudo o que era seu
e tomou a natureza de servo,
tornando-se assim igual aos seres humanos.
E, vivendo a vida comum de um ser humano,
ele foi humilde e obedeceu a Deus até a morte
– morte de cruz.” (Fp 2,6-8 – NTLH)


A idéia da simplicidade como uma virtude nos parece muito estranha. Parece não combinar com o caminho do sucesso, aquele, que todos nós devemos trilhar.A simplicidade parece destoar de nosso conceito de ser bem sucedido: ascensão social, posses, riquezas, prestígio e poder.

Quem são nossos heróis? Quem são nossos modelos de vida? Talvez isto nos ajude a responder porque não consideramos a simplicidade uma virtude.

O cristianismo está repleto de histórias de homens e mulheres que poderiam ser chamados hoje de anti-heróis. Pois o que eles alcançaram não poderia ser chamado nos dias de hoje de sucesso.

Francisco de Assis, um homem que recebeu um chamado muito claro da parte de Deus, foi especialmente impactado por três passagens bíblicas:

“Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me”.

“Não levem nada pelo caminho: nem bordão, nem saco de viagem, nem pão, nem dinheiro, nem túnica extra.

“Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.


Francisco em sua experiência de conversão não teve grande dificuldade em colocar estas verdades em prática de uma forma bastante literal, entendendo que foi chamado para viver em extrema simplicidade e pobreza. Surpreendentemente, o resultado não foi uma vida de resignação e angustia, mas, pelo contrário, a alegria e o contentamento de Francisco era o que mais provocava admiração nas pessoas. Adquiriu muitos seguidores e seu movimento se tornou uma ordem monástica.

Gosto especialmente do episódio em que o pai de Francisco indignado com a forma com que ele desperdiçava o dinheiro da família com os pobres, o leva até o bispo local para ser repreendido. Neste momento, na presença do bispo, Francisco abre mão de todos os seus direitos à herança e de seus pertences e devolve ao pai roupa que usava, partindo nu. Nesta ocasião, disse ao seu Pai:

“Até agora eu te chamei de pai, mas de agora em diante posso dizer sem reservas: Pai nosso que estas no céu. Ele é toda a minha riqueza e nele deposito toda a minha confiança”

Dificilmente um homem que começa sua história rico e termina pobre, pode ser considerado um herói, um modelo, um exemplo a ser seguido ou uma paradigma de sucesso cristão. Mas quando olhamos para o exemplo de Jesus Cristo, a questão fica mais séria. Pois Cristo é o nosso maior e único modelo:

“não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se” (v.6 - NVI)

Jesus nos ensinou o desapego e desprendimento da riqueza e da glória. O apego a glória comprometeria sua missão e o desviaria de seu alvo.

“mas esvaziou-se a si mesmo” (v.7)

Jesus nos ensinou o esvaziamento como um caminho possível. Nem sempre o objetivo é crescer, prosperar e ascender. Às vezes, somos chamados ao esvaziamento e a diminuição. Como dizia João Batista: “Convém que Ele cresça e que eu diminua”

“vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens.” (v.7)

Jesus nos ensinou o chamado ao serviço e a identificação com aqueles que são mais humildes do que nós. Jesus viveu uma vida de serviço. Tudo o que Jesus recebeu do Pai ele compartilhou com seus seguidores.

A verdade é que nem todos nós somos chamados a abrir mão de nossos bens e posses, como ocorreu com o jovem rico que desejava seguir a Jesus; mas com toda certeza, como cristãos, todos somos chamados ao desapego e a simplicidade.

Que Francisco de Assis não é nosso tipo de herói e modelo, nós já sabemos. Mas, e quanto a Jesus Cristo? Ele é mesmo nosso herói e modelo? Desejamos ser como Ele?

Oração: “Deus todo-poderoso, eterno , justo e misericordioso, que seja do vosso agrado, sermos interiormente limpos, iluminados e inflamados pelo fogo do Espírito Santo, possamos seguir os passos do vosso bem amado Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo.”(Oração de Francisco de Assis)

Desapego – de Gladir Cabral

Estender a esteira,
Sacudir a poeira,
Desatar as sandálias dos pés,
Entregar a moeda da mão
E o tesouro do seu coração.
Ir além da porteira
E cruzar a fronteira,
Não voltar mais os olhos pra trás,
Ignorar as estátuas e os sais
E os navios ancorados nos cais.

É preciso recusar,
É preciso esquecer,
É preciso não se apegar,
Porque tudo o que temos
Não é nada que somos,
Vida, vento, tempo, voz e chão.

Possuir as estrelas,
Dominar as alturas,
Ter a posse das constelações,
Já não creio em tais ilusões,
Quero gente, fogueira e canções,
Uma vida mais simples,
De alegrias constantes
E de amores intensos e sãos,
De desejos sinceros e bons,
Como um quadro de múltiplos tons.

3 comentários:

Unknown disse...

André, existem verdades que nos incomodam mas que trazem libertação de falsas crenças e motivações. Seus texto abordou com profundidade e simplicidade uma destas Verdades. Valeu amigo, juntos na caminhada. Nino

Unknown disse...

André, existem verdades que nos incomodam mas que trazem libertação de falsas crenças e motivações. Seus texto abordou com profundidade e simplicidade uma destas Verdades. Valeu amigo, juntos na caminhada. Nino

Juliane disse...

Muito bom André... falou muito ao meu estilo de vida. Estou ainda digerindo todas informações. Preciso me libertar com a simplicidade. Abraço mestre.